
Publicado em 15/12/2013.
Efetuar a gestão temporária de uma empresa em processo de transição, também conhecida como “Interim Management”, não é uma aventura, mas requer um “kit” de sobrevivência, pois é um desafio complexo, repleto de obstáculos, e muitas vezes solitário.
A gestão do processo de transição é, normalmente, mas não somente, requerida para se dar um passo relevante de profissionalização da empresa, preparação para uma abertura de capital (IPO), reestruturação do endividamento ou para capitalizá-la, seja através de captação no mercado financeiro ou aporte de capital originado por um novo sócio /investidor. Este novo investidor pode ser um parceiro estratégico, onde haveria sinergias na operação, um fundo de Private Equity, que tem objetivos de realização dos resultados no médio e longo prazo, ou, até mesmo, um Fundo de Venture Capital, voltado para empresas “start up”.
O alinhamento de propósitos entre o consultor, que fará a gestão de transição, os sócios da empresa e o investidor, onde este já existir, é o ponto de partida para o sucesso do processo.
A recepção deste gestor pelos Executivos da empresa costuma ser cética e nada calorosa. Este ceticismo refere-se ao questionamento quanto à capacidade daquele ser, estranho ao ambiente, em definir, organizar e comandar as ações da empresa, com objetivos pré-definidos, após um breve diagnóstico.
Está aí o segredo. A inexistência de vínculos com a empresa e seus representantes faz com que a missão do consultor seja absolutamente focada nos objetivos estabelecidos, e no tempo determinado. Como se trata de um desafio temporário, o profissional deve ser totalmente desprovido de interesses de continuidade na empresa após a realização de sua missão. Não obstante, a sedução e o convite para ingresso na empresa, em casos bem sucedidos, ocorrerão, pois o profissional se tornará um profundo conhecedor da empresa.
Feitas as apresentações e o diagnóstico, é hora de desenvolver ações que tragam resultados no curto e médio prazo, e implantar controles que tragam uma governança mínima a empresa, criando perspectivas positivas aos negócios e gerando confiança aos sócios, ou investidor, quanto à qualidade e potencial dos negócios.
As ações podem consistir em captação de recursos no mercado financeiro, busca de aporte de capital de investidor, reestruturação organizacional da empresa, renegociação de dívidas com credores financeiros e fornecedores, rentabilização dos negócios com aumento de receita e/ou redução de custos, planejamento estratégico, reestruturação societária e/ou fiscal, implantação de modelo de governança respaldado pelo desenvolvimento de Conselho Consultivo ou de Administração e seus respectivos comitês, desenvolvimento de indicadores de gestão, dentre outras, não necessariamente nesta ordem.
Após, concluídas as ações estabelecidas no plano e, obtidos os resultados esperados, chegamos ao ponto crítico de decisão quanto aos rumos da empresa. Neste momento, o alinhamento de propósitos estabelecido entre o gestor de transição e os sócios no início do processo, é ponto chave para a definição do caminho sustentável para empresa.
A experiência corporativa do gestor de transição e o conhecimento do mercado e de seus agentes serão fundamentais para trazer novos recursos para empresa, dirimir conflitos internos e criar um ambiente positivo, obtendo aliados, e eliminando resistências.
Portanto, apesar de não ser uma aventura, o “Interim Management” exige o espírito aventureiro do seu condutor, para conviver com um ambiente conflituoso e de poucos amigos, além de diretrizes muitas vezes dispersas, tendo como “kit” de sobrevivência sua ética, experiência e seu relacionamento com o mercado.